Algum orgulho e algo como preconceito

terça-feira, 1 de julho de 2008

Havia música. Gente. Cores. Mas uma sensação de incômodo insistia em permanecer. Era como uma tensão que precede uma agressão. Eu estava ali, cara à tapa. E me senti fragilizado. Como se estivesse dando armas a quem quisesse me ferir. E me via culpado por me encontrar assim. Afinal, era um dia de orgulho. Mas eu me sentia desprotegido, como se a felicidade de ser quem eu era não bastasse. Sim, eu precisava que os outros deixassem eu ser feliz.

E eu estava rodeado de amigos. Caras conhecidas e queridas. Estava amparado. Mesmo assim certo temor persistia: e se? E imaginei como não deve ser esse medo dentro daqueles que assistiam, mas não participavam. Dos muitos que nem chegaram a ir. E até dos machos-alfa que já preparavam as piadas infames a se fazer com seus amigos de fachada para melhor passar. E era um dia de orgulho.

Diante de tantos disfarces, barreiras e temores, o que deveria significar a comemoração de um dia do orgulho gay?

Afinal encobrir-se contrapõe o amor-próprio. E eram muitas as máscaras desfilando: literais e não. Esconder a face pareceu uma boa solução para vários. A lição então, pensei eu, é aprendida antes mesmo de assumir-se: para ser capaz de festejar o que se é ou mesmo frequentar um local onde prevalecem aqueles com o mesmo sentimento, deve-se esconder quem se é, para evitar dores. Será?

Não acredito em uma única resposta ou uma única realidade. Mas acredito extremamente no individual. No indivíduo. Vejo em cada um que ali estava verdadeiramente comemorando, essencialmente sendo o que era, motivo mais suficiente de sentir-se orgulhoso. Se não por mim, por aqueles que já conseguiram isso. São meus iguais. E lutam por mim. Sim, batalham por cada um de nós. Se não consigo ter orgulho, que pelo menos eu tenha vergonha da vergonha. E a minha culpa de sentir-me assim e todas as outras, carrego eu. Creio, porém, que pagamos todos um preço por ela.

A questão resida, talvez, em quando vamos nós lutarmos por si mesmo. Quando faremos nossa parte nesse imenso processo que é impor-se a um mundo majoritariamente diferente.

E a parada talvez sirva pra isso. Para que todos aqueles trancafiados dentro de suas autoprisões possam perceber por alguns minutos como é ser livre das amarras alheias. E que este breve despudor possa contaminar almas afora e, quem sabe, dar-lhes a coragem para viver bem mais que um só dia por ano.